Para se inspirar

Fernando Tatagiba fez das lesões o combustível para sua vitória na corrida!

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A história de Fernando Tatagiba na corrida não começou pela busca de um objetivo esportivo, mas sim algo mais pessoal e profundo: acompanhar o crescimento de sua filha Luna. 

Apesar de sempre gostar de acampar e caminhar em trilhas por parques nacionais, ele nunca havia praticado esportes de forma consistente. “Eu já tinha passado dos 35 anos e pensei que seria importante melhorar minha forma física para ter a energia necessária para estar com minha filha ao longo dos anos que viriam, conta o atleta. 

Para além disso, ele encontrou na corrida uma forma de conseguir cuidar da sua qualidade de vida, hábito que o acompanha até hoje. “Estou certo de que a corrida tem me dado energia e saúde para acompanhar minha filha crescer – não só no sentido físico, de conseguir acompanhá-la em todas as fases, mas emocionalmente também. Ver o impacto da prática na minha vida e na relação com minha filha reforça que essa foi, sem dúvida, uma escolha certeira”, afirma. 

O desafio de fazer da corrida parte da sua vida

Foi em uma visita à família em Niterói que Fernando Tatagiba teve um momento simples, mas ao mesmo tempo marcante, que mudaria o rumo de sua vida. Ao caminhar pelas ruas da cidade, ele se deparou com várias pessoas correndo no calçadão da praia. Essa imagem acabou despertando um desejo de mudança nele. “A corrida me pareceu a alternativa mais fácil, aliando praticidade com meu gosto de estar em movimento ao ar livre”, relembra.

Sem grandes pretensões, ele se viu tomando a decisão de experimentar a corrida, e, a partir daí, sua relação com o esporte começaria a se transformar em algo muito maior do que imaginava. O que era inicialmente uma opção simples para melhorar a saúde e o condicionamento físico, logo se tornaria uma paixão crescente, que o levaria a alcançar novas metas e superar inúmeros desafios.

Começar a correr foi um passo simples, mas o processo de transformar essa atividade em um hábito foi muito mais complexo. No início, a corrida se mostrou bastante desafiadora e, em certos momentos, até desconfortável. “Não é muito agradável para o corpo os primeiros minutos de corrida para um iniciante. Porém, estabeleci como objetivo correr 5 km ou, caso isso fosse mais difícil, 30 minutos sem parar – o que viesse primeiro!”, relata Fernando. 

Conseguir atingir essas metas iniciais foi uma grande conquista, afinal, isso não só alimentou sua confiança, mas também despertou o desejo de ir mais longe! Aos poucos, ele foi se acostumando com a prática, e as distâncias de 5 km a 10 km passaram a ser mais confortáveis. “Passei a conversar mais, pedir dicas e acompanhar alguns treinos de amigos mais experientes”, relata. 

Com o tempo, o que era uma simples tentativa de melhorar a qualidade de vida se transformou em uma prática regular, que logo se tornou parte essencial de sua rotina. Correr passou a ser algo do dia a dia, com novos desafios e objetivos surgindo naturalmente à medida que ele se aprofundava no esporte.

Entre desafios e lesões pelo caminho 

A trajetória esportiva de Fernando Tatagiba nunca foi fácil e, como acontece com muitos corredores, ele enfrentou desafios significativos. “Já passei por diversas lesões. Canelites (desde a inflamação na musculatura e até fratura por estresse), fascite plantar, síndrome da banda iliotibial, até uma fratura na patela”, conta o atleta.

Superar cada lesão, seja ela física ou emocional, exigiu dele uma grande dose de resiliência. “Para superar cada lesão foi preciso acreditar no meu potencial de dar a volta por cima, confiar na minha própria resiliência e nos profissionais que me deram suporte em cada momento”, afirma. 

A lesão que mais marcou sua jornada aconteceu em uma situação inusitada em 2016. No final de um dia de trabalho, ele estava fazendo barra na porta da área de serviço de sua casa quando o equipamento se soltou, fazendo com que ele caísse e fraturasse a patela. “Minha sorte é que minha esposa, Isabel, estava por lá. Fiquei desesperado no primeiro momento, especialmente pelo afastamento do meu trabalho no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que sempre foi muito importante para mim”, revela.

Os primeiros meses de recuperação foram lentos e dolorosos, marcados por uma depressão profunda. Apesar disso, o atleta contou com o apoio de sua família – que foi crucial para sua recuperação. 

Nesse tempo, enquanto acontecia a cicatrização, ele foi recuperando a capacidade de dobrar o joelho e, logo depois, reaprendeu a ficar de pé. “Voltei a caminhar com muletas, bengala, bastão de caminhada, até que no final daquele mesmo ano consegui voltar a uma trilha (até a Cachoeira do Segredo)”, compartilha o atleta.

Os três anos seguintes – até 2019 – foram dedicados à fisioterapia e ao fortalecimento muscular, mas também ao trabalho no Parque Nacional, que ocupou grande parte de sua vida. Não tinha certeza se poderia voltar a correr as distâncias antes sonhadas. Me lembro do meu irmão falar de uma mulher inglesa que havia sofrido uma lesão bem parecida com a minha e conseguiu completar uma maratona. Pensei dentro de mim: Opa! Também posso!, relata.

Com o tempo – e muito trabalho de recuperação – o atleta aprendeu que o fortalecimento muscular é fundamental para evitar novas lesões e alcançar suas metas de forma saudável. “Hoje, tanto os treinos de corrida quanto o fortalecimento muscular fazem parte da minha rotina de treinos”, reforça. 

O retorno à corrida com a confiança renovada e novas metas sendo traçadas!

Depois de um longo processo de recuperação e com a confiança voltando aos poucos, Fernando Tatagiba começou a retornar ao esporte. “Em meados de 2019, minha esposa engravidou e retornei para Brasília, onde meu filho, Pedro, nasceu em dezembro daquele ano. Em meio a isso, decidi testar os primeiros trotes e fiquei animado ao perceber que não senti grandes dores ou desconfortos”, relembra.

Porém, o ano seguinte trouxe desafios inesperados. No início de 2020, o isolamento forçado pelas medidas de controle da pandemia da Covid-19, embora difícil, acabou se tornando uma oportunidade para ele se concentrar ainda mais no fortalecimento muscular e no aprimoramento da prática. 

Em apenas quatro meses, Fernando Tatagiba estava completando sua primeira meia maratona após a fratura, sozinho, nas ruas do condomínio dos seus sogros. Para ele, esse foi um marco significativo em sua recuperação. Foi uma grande vitória pessoal que me trouxe a confiança definitiva de que eu me tornaria um maratonista, afirma. 

O ano de 2020 também trouxe outra mudança importante para o atleta. Ele descobriu os vídeos do treinador Saulo Arruda, um ultramaratonista que havia se recuperado de uma lesão grave. Me inspirei bastante com ele e passei a treinar com a sua assessoria, que na época era a SA Run (atualmente Bora Assessoria)”, relembra.

A parceria com a equipe teve um impacto direto em sua evolução como corredor. “As mudanças foram notáveis. A consistência dos treinos e a orientação de um profissional experiente foram fundamentais para eu evoluir e alcançar cada um dos objetivos que eu ia traçando”, revela Fernando Tatagiba. 

Esse trabalho em conjunto o levou a realizar nove maratonas em quatro anos, um feito impressionante. Mesmo sem nunca ter se encontrado pessoalmente com seu treinador, Eustáquio Peixe Júnior, o atleta destaca a importância da comunicação constante. “Apesar de nunca ter tido contato presencial com ele, trocamos mensagens semanalmente e avaliamos juntos minha evolução e os caminhos para as metas do ano (as ‘provas-alvo’)”, ressalta.

Também, outros profissionais tiveram (e têm) um papel fundamental na trajetória de Fernando Tatagiba. “A cada prova, é fortalecida a convicção de que, mesmo nos esportes individuais, não alcançamos nossos objetivos sozinhos! Então, sou muito grato às pessoas que me auxiliaram durante essa jornada. Algumas nem sabem que ajudam e inspiram! Além do Eustáquio, outras merecem minha gratidão especial: a nutricionista Gabi Gudergues, o fisioterapeuta Henrique Chaves, entre tantas outras incríveis!”, comenta. 

A corrida de trilha alinhada à sua vida pessoal 

Apesar de ainda ter uma predominância de asfalto, em 2023 Fernando Tatagiba começou a correr mais em trilhas. “A sensação de bem-estar e a conexão com a natureza são incríveis. Ainda estou me adaptando e aprendendo sobre a “lógica” de correr em trilhas, que é bem diferente da corrida de rua – no que diz respeito ao controle de ritmo, percepção de esforço, como também a estratégia para longas distâncias. Atualmente, estou me preparando para um desafio maior: a corrida de 58km (uma ultramaratona de montanha) em Paraty, com mais de 3.000 metros de desnível, conta.

Além disso, sua relação com o esporte e a natureza se reflete também no seu trabalho. “Estou em fase avançada da seleção para fazer um curso de doutorado na Escola Nacional de Botânica Tropical, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e parte importante da minha pesquisa será relacionada aos eventos esportivos realizados dentro das unidades de conservação, como parques nacionais, reservas extrativistas e áreas de proteção ambiental”, explica o maratonista.

Ele vê esses dois mundos — o esporte e a preservação ambiental — como complementares em sua vida. “Se tudo der certo, em setembro chego em Paraty como atleta, gestor do ICMBio e pesquisador, buscando entender melhor como podemos ter corridas cada vez mais sustentáveis, com baixos impactos negativos sobre a natureza e contribuindo para os diversos grupos humanos e não humanos envolvidos”, compartilha.

A plataforma Treinus faz parte da vida de Fernando Tatagiba há 5 anos!

Com tanta experiência acumulada e inúmeros desafios superados, Fernando Tatagiba compartilha uma mensagem de incentivo para quem está começando ou enfrentando dificuldades semelhantes às que ele já passou. “Seja generoso e paciente consigo! Confie no processo de evolução e tente evitar pular etapas. Quando as lesões eventualmente aparecerem, acolha o sofrimento, a dor e a frustração, mas confie na sua capacidade de se recuperar. Busque apoio de profissionais, familiares e amigos de confiança”, aconselha.

Também, o atleta destaca a importância de definir seus objetivos e focar neles. Traçar metas ajuda a seguir e manter a disciplina para treinar – mesmo sem estar com vontade (que acontece várias vezes). Acreditar no ‘superpoder’ de dar um pequeno passo de cada vez é fundamental”, recomenda.

Para o atleta, o apoio de profissionais é crucial, especialmente para quem está correndo distâncias maiores. Nesse cenário, ele considera a plataforma Treinus uma grande parceira em sua jornada. “A Treinus faz parte da minha vida desde meados de 2020! É ali que vejo como serão minhas corridas ao longo da semana e onde troco ideias com meu treinador após cada treino. Sem dúvida, em sincronia com meu relógio, é onde meu progresso é planejado e registrado!”, afirma o maratonista.

Por fim, ele deixa um último recado sobre a importância de manter uma prática regular de exercícios. “É um dos melhores presentes que podemos dar para nós mesmos. Nosso eu do futuro certamente vai agradecer por termos começado e perseverado nos esportes. A ciência mostra benefícios indiscutíveis! Talvez os físicos sejam mais claros para a maioria das pessoas. Mas, os ganhos para a saúde do cérebro são no curto e longuíssimo prazos!”, finaliza. 

Sobre o atleta

Maratonista Fernando Tatagiba

Fernando Tatagiba é biólogo, mestre em botânica, fotógrafo, pai e analista ambiental, com mais de 20 anos de experiência em conservação da natureza, tendo trabalhado em instituições como Funbio, FNMA, Ministério do Meio Ambiente e ICMBio – onde foi chefe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Como fotógrafo, busca retratar a conexão entre humanos e não humanos, com exposições no Brasil, Alemanha, Portugal e Argentina. O maratonista também pratica esportes com sua família, compartilhando trotes com sua esposa, que começou a correr este ano.