Emagrecimento rápido, resultados milagrosos, quilos a menos em poucos dias, ou aquela promessa do corpo perfeito até o verão. As dietas restritivas prometem milagres e aparecem, a cada dia, em uma nova roupagem, não à toa, são consideradas como “da moda”. Mas afinal, esse tipo de alimentação com base na restrição, realmente funciona? É possível e sustentável usar desse artifício para ter uma vida mais leve e saudável?
O que são dietas restritivas?
Para o nutricionista e mestre em Medicina Jefferson Comin, as dietas restritivas podem ser encontradas de diferentes formas, podendo restringir um determinado nutriente, um grupo de nutrientes ou uma quantidade de energia a ser consumida. Por exemplo:
- A dieta celíaca restringe o consumo de glúten.
- A dieta cetogênica restringe o consumo de carboidratos em até 10% do consumo energético total diário.
- A restrição calórica restringe a quantidade de calorias totais a serem consumidas.
Segundo ele, esse tipo de dieta parece milagrosa porque promove resultados rápidos ou, resultados agudos, que costumam ocorrer em um período curto, geralmente de 4 a 6 semanas. Contudo, esses ganhos costumam ser inconsistentes e não duradouros.
Jefferson argumenta que para que as pessoas cheguem aos seus objetivos, principalmente os estéticos, deve-se propor desafios para o corpo. “Quando você restringe o seu consumo alimentar como um desafio, o seu corpo mobiliza os estoques de energia, e então, você emagrece. Em uma dieta restritiva, esse emagrecimento acontece muito em quantidade, em rapidez, ou até mesmo nos dois. O grande problema é que muitas dessas dietas podem expor o organismo a riscos que comprometem o seu funcionamento, dessa forma, não é incomum essas pessoas terem um reganho de peso, o famoso “efeito sanfona”.
Os efeitos das dietas restritivas no organismo
A restrição alimentar provoca a privação de nutrientes. Isso faz com que o corpo libere vários hormônios para que os estoques de energia sejam mobilizados, gerando resultados mais rápidos, mas que, muitas vezes, são oriundos da desidratação e não da perda de gordura, como nos casos das dietas low carb e cetogênicas. “Essas dietas podem ser aplicadas somente em casos específicos, por exemplo, a Low Carb pode ser utilizada em pacientes que precisam perder peso rápido, como no caso de lutadores. A dieta cetogênica é amplamente estudada e recomendada para pessoas com epilepsia, sendo capaz de reduzir muito os episódios. Contudo, a adoção de cada uma delas de maneira deliberada pode levar ao comprometimento da saúde e da qualidade de vida.”, constata Jefferson Comin.
Restringir determinado alimento, nutriente ou energia também pode levar a carências nutricionais, principalmente de vitaminas e minerais, o que não é saudável a longo prazo. “Os micronutrientes são extremamente importantes para o nosso metabolismo energético. Basicamente, imagine que precisamos “pegar” a gordura e transformar em energia. Quem faz isso é o nosso metabolismo que é controlado por enzimas que, muitas vezes, só funcionam se houver vitaminas e minerais. Quando você faz uma dieta restritiva você pode deixar de fornecer essas vitaminas e minerais e, dessa forma, comprometer o seu metabolismo energético. Logo, os seus resultados vão ser comprometidos também!”, relata o nutricionista. Devido a todos esses fatores, Jefferson ressalta a importância de se ter um profissional para orientar quando e por quanto tempo tais dietas devem ser feitas.
Dietas restritivas se sustentam a longo prazo?
Existe uma ligação direta entre restrições alimentares, efeito sanfona e compulsão. Isso acontece porque, muitas vezes, a adoção desse tipo de estratégia é capaz de proporcionar resultados que não são duradouros. Ou seja, à medida que a pessoa volta a seus hábitos alimentares “normais” ela acaba por engordar. Os episódios de compulsão alimentar também são bastante comuns, pois quando se priva de determinados alimentos ou se faz uma dieta restritiva, é comum que ocorra o efeito rebote. Nele, um período de extrema restrição é seguido por um período de alto consumo de alimentos.
Essa compulsão alimentar também tem origem no âmbito psicológico. Jefferson reitera que o ato de “comer”, por si só, já é uma forma da mente se satisfazer e que vai muito além da nutrição, se tornando um ato social. Dessa forma, quando se faz uma dieta muito restritiva e se priva de certos alimentos, isso acaba por influenciar alguns comportamentos e características psicológicas, ou até mesmo modificar níveis hormonais. À medida que o tempo passa e a restrição continua é comum a ansiedade aumentar. “Outro ponto importante é que alguns alimentos como o chocolate e o queijo cheddar, conseguem fazer com que o corpo libere endorfinas: hormônios que geram a sensação de prazer e bem-estar. Agora imagina só, você tem um período longo fazendo uma restrição alimentar, somado com o aumento da ansiedade, mais a necessidade da liberação de endorfinas… Temos todos os ingredientes para um episódio de compulsão.”, sinaliza.
Além de todos esses danos, às restrições também podem gerar carências nutricionais, trazendo resultados indesejáveis a médio e longo prazo. Portanto, dietas da lua, da moda, do ovo e, até, as publicadas em redes sociais merecem um olhar atento e muita cautela. “Tome cuidado com o tipo de dieta que está fazendo, procure sempre o auxílio de um nutricionista apto. Não adote dietas de terceiros, por mais seguidores que eles tenham no Instagram. Esse tipo de prática pode comprometer a sua saúde.”, aconselha o profissional.
Dietas restritivas e seus maiores mitos
As dietas restritivas sempre surgiram e sempre vão surgir com a premissa básica de que são mágicas. “Como não mencionar os vários tipos de Jejum Intermitente? Eles são muito famosos e têm ganhado muita atenção da comunidade científica, da mídia e de várias pessoas. Há dietas com fundamentos rasos, levianos e sem comprovação científica alguma.”, destaca o mestre em Medicina.
Com suas inúmeras promessas e afirmações, cada dieta que vem à moda afirma um novo milagre e diferentes resoluções rápidas de problemas. Mas de acordo com Jefferson, cada dieta mirabolante carrega consigo um mito que precisa ser analisado com cuidado. Vamos aos principais deles:
Seres humanos não devem tomar leite
A premissa para as dietas contra lactose é de que somos os únicos mamíferos que depois de adultos continuam a tomar leite. “Não há embasamento científico nessa afirmativa. O leite é ótimo alimento/bebida sendo uma fonte de cálcio, pois além de conter o micronutriente, ele pode ser absorvido, diferente dos vegetais verdes escuros (o cálcio não é absorvido).”, confirma o nutricionista.
Água alcalina
A água que bebemos chega no estômago e tem seu pH rapidamente modificado, depois é absorvida pelo intestino, onde o pH também sofre modificações. O nosso corpo dispõe de mecanismos que controlam o pH dos tecidos, de maneira que o pH do nosso sangue deve ficar entre 7,35 até 7,45. Logo, de nada adianta você tomar uma água alcalina.
Carboidratos engordam
O tecido adiposo consegue transformar carboidrato em gordura, contudo ele não é eficiente em fazer essa conversão, mas sim em armazenar o excesso de energia em gordura, desde que ela já esteja pronta para ser estocada. “Muitas pessoas dizem que engordam quando comem carboidratos. Na verdade, o que está acontecendo é que o organismo utiliza esses carboidratos consumidos em excesso como principal fonte de energia, e então acaba poupando as gorduras oriundas da dieta, que invariavelmente são estocadas no tecido adiposo.”, explica o nutricionista.
Hábitos saudáveis, resultados duráveis
Jefferson explica que para a maior parte dos casos, não há a necessidade de grandes modificações dietéticas. É possível ter bons resultados apenas com a inserção de frutas, verduras e legumes na dieta, restringindo o consumo de bebidas gaseificadas, doces e alimentos industrializados. E também aumentando a ingestão de carboidratos integrais e tomando cuidado com a preparação dos alimentos.
A dica para emagrecer com saúde e de forma duradoura, além de atividades físicas e hábitos saudáveis, passa por uma equação básica e simples: quantidade e frequência. Sendo assim, não há alimento proibido dentro de um planejamento dietético saudável desde que se saiba as quantidades que devem ser consumidas e a frequência de consumo. “Não tem problema você comer o seu chocolate no final de semana, mas também não precisa comer duas caixas inteiras de bombom. E o grande segredo para que você atinja bons resultados e de forma duradoura é ter paciência e constância”, inspira o nutricionista.
Conheça o profissional
Jefferson Comin é nutricionista, professor de graduação e pós-graduação em Nutrição, Nutrição Esportiva, Nutrição Clínica, Endocrinologia, Fisiologia do Exercício e afins.
Sua história na nutrição começou pelo esporte. Ele já foi competidor de Jiu Jitsu e sempre via pessoas fazendo loucuras para poderem competir nas mais diversas categorias. Essas dúvidas o fizeram ingressar no curso de Nutrição e no Mestrado em Medicina, sendo inclusive agraciado com um prêmio de Young Scientist pela European Respiratory Society (2015). Atualmente participa de um programa de Doutorado pela Universidade de São Paulo.
Instagram: @cominjefferson