Palpitações, dificuldade de concentração e até mesmo falta de ar. Provavelmente, você já deve ter vivenciado pelo menos um desses sintomas em algum momento da vida. No geral, reconhecer essas e outras possíveis causas da ansiedade é o melhor caminho para lidar com esse transtorno que afeta cerca de 33% da população mundial (2022), de acordo com a OMS.
Além disso, segundo a mesma organização, o Brasil é o país com maior número de ansiosos no mundo, ultrapassando 18 milhões de pessoas. Assim, diante de números tão alarmantes, faz-se necessário o apoio profissional para contornar esse transtorno mental. Por isso, para nos ajudar, convidamos a psicóloga Ana Clara Duarte para abordar as origens da ansiedade e quais as soluções para combater esse problema.
O que caracteriza a ansiedade?
A ansiedade é um estado natural do corpo e envolve preocupação e apreensão em relação a eventos futuros, podendo variar de intensidade leve até grave.
De acordo com a psicóloga Ana Clara Duarte, trata-se de um sentimento comum, que atinge todos os seres humanos. “Considerada como uma resposta ao medo, a ansiedade nos protege de situações potencialmente perigosas. Ou seja, é uma reação que, de certa forma, nos auxilia e pode ser considerada adaptativa”, explica.
No entanto, quando tal sensação se torna crônica (e consequentemente prejudicial ao bem-estar da pessoa), ela pode indicar um transtorno. “A ansiedade se torna patológica quando começa a interferir no desempenho pessoal do sujeito, ou seja, ela não cessa e continua a ganhar força, passando a afetar negativamente as atividades corriqueiras dele”, pontua a profissional.
Diferenças da ansiedade para outros distúrbios mentais
Embora a ansiedade seja uma emoção presente em todos, é importante distingui-las de outros distúrbios mentais. Cada condição possui características específicas, envolvendo sintomas físicos, mentais e, inclusive, padrões comportamentais.
“A diferença dos transtornos de ansiedade para os outros reside exatamente nos critérios diagnósticos. Cada distúrbio apresenta sintomas específicos, e estes podem, inclusive, ser desencadeadores da ansiedade mal adaptativa. E vice-versa”, destaca.
Nesse cenário, a psicóloga reforça a importância de uma avaliação individual de caso. “É preciso explorar cada quadro de forma específica, pois, quando uma pessoa apresenta sintomas de mais de um transtorno mental (o que é super comum), existe a necessidade de uma intervenção multidirecionada”, explica Duarte.
Características e sintomas para identificar a ansiedade
Identificar a ansiedade pode ser desafiador, pois, muitas vezes, seus sintomas se confundem com respostas às complexidades da vida cotidiana. Entretanto, há indícios que podem ajudar na detecção precoce dessa condição.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, a ansiedade pode se manifestar através de sintomas físicos e psicológicos, incluindo:
- Falta de ar e tontura.
- Fadiga e/ou tensão muscular.
- Sensação de nervosismo e irritabilidade.
Transtorno de ansiedade e ataque de pânico
Outras situações devem ser observadas para ajudar a identificar o problema. Segundo Duarte, há uma grande diferença entre ansiedade, transtorno de ansiedade e ataque de pânico.
Como citado anteriormente, ansiedade é um estado emocional comum e, normalmente, precede algum acontecimento específico, enquanto o transtorno está relacionado a preocupações frequentes e persistentes sobre diversos assuntos do dia a dia, gerando sintomas físicos, psicológicos e comportamentais, interferindo diretamente na forma de a pessoa agir e perceber acontecimentos.
Por sua vez, os ataques de pânico são episódios repentinos e intensos, que podem durar até 60 minutos e que, conforme a profissional, acompanham pelo menos 4 dos sintomas abaixo:
- Medo de morrer.
- Medo de enlouquecer ou de perder o controle.
- Sensações de irrealidade, estranhamento (desrealização) ou desligamento de si mesmo (despersonalização).
- Dor ou desconforto no peito.
- Sensação de desmaio ou sufoco.
- Ondas de calor ou calafrios.
- Náuseas ou desconforto abdominal.
- Sensações de anestesia ou parestesia.
- Palpitação ou aceleração da frequência cardíaca.
- Sensação de falta de ar ou asfixia.
- Sudorese.
- Tremores.
Diante disso, observar padrões comportamentais e emocionais pode ajudar na identificação da ansiedade, mas Duarte reforça que nenhum dos sintomas mencionados são considerados de forma isolada. “É necessário que se apresentem em conjunto, sendo recorrentes há algum tempo e interferindo na vida cotidiana do sujeito”, enfatiza a profissional.
Quais são as possíveis causas da ansiedade?
De acordo com a psicóloga, as causas da ansiedade são multifatoriais, ou seja, vão depender do contexto em que a pessoa se encontra e/ou está inserida. Nesse sentido, para melhor compreensão, ela deixa uma lista com 4 possíveis causas da ansiedade:
1. Contextos interpessoais
Dinâmica familiar, ambientes profissionais e/ou informais, bem como lugares frequentados, tudo influencia diretamente nas possíveis causas da ansiedade. Se esses locais te causam desconforto e tensão frequentes, é preciso estar atento ao seu bem-estar psicológico.
2. Eventos traumáticos
Vivenciar e/ou testemunhar situações de estresse, como guerras, acidentes, catástrofes naturais, agressões sexuais ou qualquer outra ocorrência que coloque a vida humana em risco pode ser o motivo para desencadear transtornos mentais, sendo esse mais um fator causador da ansiedade.
3. Fatores biopsicossociais
Para a profissional, a ansiedade pode ser resultado de uma combinação de fatores biopsicossociais. Esse termo é utilizado para descrever a combinação de combinações biológicas e contextuais ligadas ao desenvolvimento do Transtorno de Ansiedade.
Traços de personalidade herdados, como a “inibição comportamental”, somados a modelos parentais e experiências estressantes na infância, como maus-tratos e abusos, podem vir a causar ansiedade.
4. Abuso de substâncias
Por fim, Duarte explica que o abuso de substâncias pode servir como uma possível causa da ansiedade. A cafeína, por ser um estimulante, assim como alguns fármacos, drogas ilícitas e álcool estão relacionados ao aumento de sintomas ansiosos, pois induzem diretamente essa emoção.
Dicas para aprender a lidar com a ansiedade
Por mais que a ansiedade seja um problema desafiador e debilitante para muitas pessoas, é possível encontrar boas maneiras de evitá-la para reduzir seus efeitos negativos no dia a dia.
Inicialmente, o recomendado é buscar auxílio de um psicólogo. “Incentivo as pessoas a procurarem ajuda profissional quando perceberem que não estão dando conta de lidar com os pensamentos e emoções sozinhas. O indicado é tratamento psicoterapêutico, inclusive as Terapias Cognitivo-Comportamentais, e, em alguns casos, intervenção medicamentosa”, afirma.
Em adição, Ana Clara Duarte orienta a incluir exercícios de relaxamento na rotina. “A prática de voltar a nossa atenção para o momento presente, seja através da meditação ou do controle da respiração, faz com que nossa mente se distancie momentaneamente da ruminação mental, o que, consequentemente, afeta as nossas emoções”, cita.
Como exemplo, ela sugere realizar a técnica dos 5 sentidos, seja durante a sessão de terapia, seja na própria companhia, quando estiver só:
- Olhar em volta e mencionar 5 coisas que você pode ver agora.
- Ouvir e mencionar 4 coisas que você pode ouvir.
- Observar 3 coisas que você pode tocar.
- Citar 2 cheiros.
- Mencionar 1 coisa que você pode provar.
Além das iniciativas citadas acima, pratique exercícios físicos regularmente, mantenha uma alimentação equilibrada e busque uma rede de apoio para ajudar a controlar os sintomas, afinal, essa condição pode ser manejada.
Ao aprender a reconhecer as causas da ansiedade e ao implementar hábitos saudáveis na sua vida, é possível não apenas lidar com o problema, mas também cultivar uma sensação de bem-estar e resiliência emocional!
Sobre a profissional
Ana Clara Duarte Caires tem 27 anos e é natural de Belo Horizonte-MG. Graduada em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, com ênfase em psicologia clínica, faz pós-graduação em Terapias Cognitivo-Comportamentais e atua nessa abordagem desde que se formou. Realiza atendimentos individuais e também de casais, de forma online. Como uma boa mineira, ama um pão de queijo com café. Além de ser uma leitora assídua, gosta de cozinhar e pratica atividade física todos os dias. Para ela, são as pequenas ações do dia a dia que fazem a nossa rotina ser mais gostosa.
Referências
COVID-19 pandemic triggers 25% increase in prevalence of anxiety and depression worldwide
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais