Alimentação

Consumo excessivo de alimentos ultraprocessados pode colocar a saúde em risco!

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Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) revelou que os brasileiros na faixa etária de 45 a 55 anos aumentaram o consumo de alimentos ultraprocessados desde o início da pandemia. O consumo desses produtos, que antes era de 9% em outubro de 2019, disparou para 16% em junho de 2020.

Em contrapartida, o Guia Alimentar para a População Brasileira tem como uma das recomendações evitar a ingestão dos alimentos ultraprocessados. Isso se dá em razão da pobreza nutricional e por favorecer a ocorrência de problemas como: obesidade, diabetes e doenças cardíacas. Diante desse cenário, conversamos com o nutricionista esportivo Jefferson Comin para entender como podemos tornar a alimentação mais adequada e saudável

O que são alimentos ultraprocessados?

De acordo com o nutricionista, os alimentos ultraprocessados podem ser compreendidos como aqueles que são produzidos pela indústria e utilizam ao menos cinco ingredientes adicionais em suas formulações. Entre os itens adicionados estão: adoçantes, corantes, emulsificantes, conservantes, aromatizantes, entre outros.

“Os alimentos ultraprocessados são práticos e palatáveis, eles geram uma sensação de prazer e bem-estar, e isso é tudo o que queremos. Esses alimentos podem fazer com que o nosso corpo libere hormônios e, dessa forma, a pessoa fica mais relaxada, como no caso do chocolate. Enquanto estávamos (ou estamos) na pandemia, o sentimento de aflição, medo e ansiedade pairava dentro de nossas casas. Nada melhor do que uma comida gostosa para comer e que não dê trabalho para fazer. Pois bem, os ultraprocessados atendem perfeitamente esse tipo de necessidade”, explica Comin. Confira abaixo uma lista de alimentos ultraprocessados, muito deles remosos, que podem estar fazendo parte das suas refeições e talvez você nem saiba:

  • Biscoitos, sorvetes e guloseimas. 
  • Bolos.
  • Cereais matinais. 
  • Barras de cereais. 
  • Sopas, macarrão e temperos “instantâneos”.
  • Salgadinhos “de pacote”. 
  • Refrescos e refrigerantes. 
  • Achocolatados.
  • Iogurtes e bebidas lácteas adoçadas. 
  • Bebidas energéticas.
  • Caldos com sabor carne, f
  • rango ou de legumes. 
  • Maionese e outros molhos prontos. 
  • Pães de forma.

Ainda é possível citar produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc.); e outras opções como pães doces e produtos de panificação que possuem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar e outros aditivos químicos.

Quais os riscos dos alimentos ultraprocessados para a saúde?

O consumo regular dos alimentos ultraprocessados causa diversos riscos à saúde. Isso inclui desde desordens no trato gastrointestinal, aumento do risco de fraturas, alterações metabólicas, problemas cardiovasculares e respiratórios, até depressão, câncer, demências e outras doenças.

“As substâncias contidas nesses alimentos não são compatíveis com a manutenção da saúde dos seres humanos. Esses alimentos são pobres nutricionalmente, ou seja, não dispõem de grande variedade de nutrientes. Além disso, costumam ter excesso de açúcares e alto teor energético. Ao fazer o consumo regular de alimentos ultraprocessados, as pessoas estão ingerindo muitas calorias, o que colabora para o desenvolvimento da obesidade e as leva a diferentes complicações”, destaca Jefferson Comin. 

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) constatou que jovens que comem ultraprocessados têm 45% mais chances de ter obesidade, bem como 63% têm mais probabilidade de desenvolver obesidade visceral (acúmulo de gordura entre os órgãos), que está relacionada ao desenvolvimento de hipertensão, doença arterial coronariana, diabetes tipo 2, dislipidemia e aumento do risco de mortalidade.

“Um fato interessante é que alguns alimentos, como no caso dos fast foods, podem gerar um vício semelhante ao observado em pessoas adictas ao uso de cocaína e heroína. Eles costumam conter ao menos quatro componentes que causam prazer e viciam, entre eles: cafeína, sal, açúcar e gorduras”, ressalta o profissional. Ainda segundo o nutricionista, muitos alimentos ultraprocessados são saborosos, pois contém uma substância chamada de glutamato monossódico, que, em conjunto com as demais, pode causar danos ao DNA. O que invariavelmente resulta em uma série de doenças, como, por exemplo, o desenvolvimento de células tumorais.

Todos os alimentos ultraprocessados são prejudiciais à saúde?

Muitos acreditam que os alimentos ultraprocessados podem fazer parte da rotina ao se depararem com produtos que trazem em seus rótulos “com adição de fibras”, “rico em vitaminas” ou “menos sódio”, porém, é importante mediar o consumo. 

Simplesmente reduzir, excluir ou adicionar ingredientes não altera a natureza dos alimentos ultraprocessados. É comum que a reformulação desses alimentos apareça como uma possível solução para reduzir seus efeitos nocivos à saúde, mas não é bem isso que acontece. “Ultraprocessados com menos sódio e açúcar ou com adição de fibras e de nutrientes podem ser classificados como “menos pior”. Lembre-se de que ao fazer o consumo desse tipo de alimento você estará deixando de comer outros alimentos que são ricos nutricionalmente”, frisa Comin.

Como substituir alimentos ultraprocessados?

É muito difícil escapar da tentação de consumir biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, achocolatados e afins. Afinal, são infinitas as opções que lotam os corredores dos supermercados diante dos nossos olhos. “Organização é uma palavra-chave para que você consiga manter uma rotina alimentar saudável sem consumir alimentos ultraprocessados. Antes de sair de casa, prepare a sua marmita com arroz, feijão, frango e salada. Dessa forma, você não vai parar para comer um hot dog na hora do almoço. Leve frutas para o trabalho, esse é um ótimo jeito para você não ter que ir até o supermercado e comprar algumas bolachas para o meio da tarde”, sugere o nutricionista. 

Mas, atenção! Como tudo na vida, o equilíbrio também é necessário para que você possa manter uma rotina saudável, ou seja, não há necessidade de eliminar completamente o consumo dos alimentos ultraprocessados. “Eu gostaria de ressaltar que não há alimento proibido dentro de uma alimentação saudável, só precisamos considerar as variáveis de quantidade e frequência. Você não precisa comer esse tipo de alimento todos os dias, mas uma vez por mês não fará mal. Inclusive, você pode se beneficiar do aspecto social ao qual a alimentação está inserida. Imagine que você vai na nova lanchonete da cidade com os seus amigos para comer um hot dog. Nessa situação, você está comendo o alimento de maneira pontual e irá desfrutar de uma boa conversa e risada com aquele grupo de pessoas que está acompanhando, isso também é saúde. Por outro lado, não significa que você vai sair com os seus amigos e você deva comer 83171930 hot dogs. Apenas um ou no máximo dois, já são suficientes. Nesse exemplo, eu comi um hot dog, uma vez no mês, ou seja, mantive a quantidade e a frequência baixos. Portanto, tome cuidado!”, finaliza o nutricionista. 

Sobre o profissional

Nutricionista Jefferson Comin

Jefferson Comin é nutricionista com Mestrado em Medicina e Doutorado em Biologia de Sistemas. Ele atua como nutricionista esportivo e professor nos cursos de graduação e pós-graduação de Nutrição. O seu interesse na área surgiu a partir de dúvidas do dia a dia, principalmente ao ver amigos esportistas adotarem diversas estratégias nutricionais para aumentar o rendimento físico. Atualmente, leva para os seus pacientes e alunos o que há de mais moderno e seguro dentro no campo da Nutrição. Quer conhecer esse conteúdo? Siga @cominjefferson!

Referências 

A escolha dos alimentos

Pandemia: aumento de consumo de ultraprocessados pelo Brasil

Risco de obesidade é 45% maior entre jovens que comem muito ultraprocessado